Leia o artigo original e completo em Esther Rolinson und ihre Lichter der Renovierung - journal a (journal-a.com)
A artista multimídia britânica Esther Rolinson criou uma obra de arte que se estende por mais de 500 metros com luzes geradas por computador. Luminations é uma instalação de site-specific que renovou o espírito de uma antiga cidade litorânea no norte da Inglaterra. O artigo foi publicado originalmente na “The German English Journal for Architecture & Art” em alemão e inglês.

A artista britânica Esther Rolinson expõe Luminations: uma instalação artística pública em larga escala, que usa postes de luz para renovar inteiramente o espírito de uma antiga cidade litorânea no norte da Inglaterra.
Imagine uma obra de arte que abrange mais de 500 metros de luzes geradas por computador, com cores e formas de tirar o fôlego, pairando quase 10 metros acima das cabeças de pedestres, que caminham ao longo da orla marítima de uma pequena cidade pitoresca na costa inglesa. Está é Luminations, uma instalação de arte para um local específico (site-specific art), criada pela artista Esther Rolinson, que usou os típicos postes de luz costeiros para gerar admiração sem intromissões em Cleethorpes, uma cidade litorânea no nordeste de Lincolnshire.

Esther Rolinson foi contratada para desenvolver um projeto artístico com o objetivo de renovar modernizar a paisagem urbana deste lugar que, alguns anos antes, foi um dos principais destinos praianos da Inglaterra. Luminations é integra o plano de arte pública do Programa de Regeneração do Nordeste de Lincolnshire e de Cleethorpes, de 3,8 milhões de libras. Segundo Helen Thompson 1 , líder de turismo estratégica do Conselho do Nordeste de Lincolnshire (Strategic Lead for Tourism at North East Lincolnshire Council), investir em arte pública foi um fator determinante para atingir todas as metas do processo de reconstrução da identidade de Cleethorpes.
Durante a fase de pesquisa do projeto concluíram que tudo referente a praia e a vivência perto do mar aparecia como o maior atrativo aos visitantes. Transformar essa experiência seria crucial para o sucesso do plano de regeneração. Nas palavras de Thompson, a arte pública é “uma maneira extraordinária de dar vida aos espaços e melhorar o ambiente”. Com esta finalidade, buscaram encontrar uma mente artística que pudesse captar por completo, a natureza do passeio na costa de Cleethorpes, e aumentar a percepção das pessoas dessa experiência. Depois do que Thompson descreveu como uma “competição acirrada”, descobriram que Esther Rolinson era a pessoa certa para uma tarefa como essa.
Esther Rolinson relembra que sua primeira reação, quando convidada para a entrevista do projeto, foi conferir como era Cleethorpes no Google Earth. Visto de cima, parecia que não havia nada por lá, além de apagados resquícios de um tradicional destino de férias que famílias frequentavam há muito tempo. Essa vaga visão inicial provocou a artista a fazer o que fosse possível, para ajudar a regeneração deste lugar que parecia ter caído no esquecimento.
Como uma grata surpresa, a primeira impressão sombria de Rolinson mudou radicalmente quando ela foi a Cleethorpes, em fevereiro de 2019, pela primeiva vez para conversar com a equipe do projeto. A artista relembra 2 : “Estar lá fez tudo ficar bem diferente. O trem para Cleethorpes chega diretamente à beira-mar que era o local proposto para a obra de arte. Assim que saí do trem, fui surpreendida pela pura percepção do espaço, e por uma beleza intocada, que o Google Earth jamais poderia captar. Aquilo fez meu coração disparar. Eu senti uma conexão genuína. Eu moro em Hastings que também uma cidade costeira, mas no sul da Inglaterra, entendi que o povo de Cleethorpes, como eu em Hastings, ama essa abertura e liberdade que o mar expressa, e quer que isso seja reconhecido. Quando voltei da entrevista, ainda antes de saber que tinha sido escolhida, fiz um desenho sobre esse sentimento para captar essa sensação de liberdade dentro de mim – para desenhá-la simplesmente porque podia.”
Esse desenho estava relacionado a uma série que Esther Rolinson já havia trabalhado antes, intitulada Gravitate. Essa série foi o destaque da exposição individual de mesmo nome, realizada no Watermans Art Centre, em Londres, em 2017. Rolinson construiu sua trajetória artística criando instalações imersivas ou de larga escala para galerias ou em exposição permanente em lugares públicos. Podem ser vistas como intervenções arquitetônicas ou interações urbanas, mas para a artista, todas as obras incorporam experiências que ganham vida.

A luz desempenha um papel essencial nessa “metamorfose”. A maioria das obras de Rolinson usa a luz, não como um acessório, mas como matéria-prima para expressar conceitos e emoções. A artista é fascinada pelas muitas possibilidades que esse elemento incorpora, o movimento, as sombras e cores que pode trazer. Por vezes, se refere às suas obras como entidades – como seres que cria apenas usando lápis e papel.
Rolinson tem um diálogo profundo com as mídias digitais (como o trabalho inovador com arte computacional), e tem experiência na construção de estruturas enormes. No entanto – e essa é uma característica essencial do processo criativo de Rolinson – todas as suas criações começam com desenhos abstratos que ela desenvolve, seguindo sistemas que formula e aplica à mão. Seus desenhos não são apenas esboços preliminares de esculturas ou instalações: são criações nas quais seus pensamentos são manifestados. São obras de arte em sua essência. Alguns deles se tornaram gravuras, como Breathing the Breath of Others (2016), adquirido pelo Victoria &Albert Museum, em Londres.
Rolinson cria mecanismos complexos com regras rígidas para fazer curvas e linhas retas, que exigem atenção e precisão para compor imagens requintadas. Embora primeiramente eles resultem em desenhos bidimensionais, ela pode facilmente visualizá-los como uma imensa instalação 3D ao ar livre. Sua especialidade é fazer essa transposição, transmitir suas ideias aos engenheiros e trabalhar ao lado da equipe que tornará suas ideias reais, como foi o caso de Luminations.
A instalação site-specific possui uma estrutura integrada de linhas retas e voltas em loop erguida nos postes de iluminação, carregando lâmpadas estilo retrô que reproduzem quase 200 padrões de animações coloridas produzidas com código criativo. Esther Rolinson explicou que usou um formato vintage de luz para evocar lembranças que as pessoas possam se relacionar e ao mesmo tempo, interferir o mínimo possível no cenário atual. Ela quis que a obra de arte se incorporasse do espaço como se sempre estivesse ali. Rolinson não quer que sua criação seja vista como uma intrusão externa. A sua conscientização do contexto social e o entorno, bem como sua visão artística, brilharia através das luzes de Luminations.
Em suas palavras, Rolinson 3 explica: “Para mim, é crucial que minhas obras de arte públicas permitam que as pessoas tenham uma sensação de pertencimento. Significa que não é só um elemento colocado naquele local. Evito a ideia de que ‘é uma obra de arte’ pois às vezes pode causar distanciamento. Então, usei deliberadamente essas lâmpadas de formato antigo porque conversam bem com a tradição arquitetônica de pequenas cidades à beira-mar. Como material, as luzes foram uma porta de entrada visual que transmitiu com familiaridade, um conceito que era realmente muito complexo. Eu trabalhei com uma estratégia ousada, mas a usei de maneira articulada para comunicar a natureza sutil dos movimentos e dos sentimentos. Era muito claro que esse local específico precisava levar as pessoas ao longo de uma rota continua na caminhada, mas também mudar a experiência desse passeio. Penso que os padrões e formas são como uma linguagem de liberdade, que foi a sensação que eu quis manifestar.”
Desde os primeiros desenhos, protótipos, testes e construções feitas em parceria com o Light Lab, um consultor de projetos de iluminação arquitetônica, o projeto levou cerca de três anos para ficar pronto (com a pandemia de COVID-19 atrasando significativamente). Esther Rolinson finalmente revelou Luminations ao público, no Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março de 2022. Ainda não foram divulgadas estatísticas sobre o impacto nos negócios locais e no turismo da região. No entanto, Helen Thompson disse que o Council recebeu um feedback muito positivo dos moradores e empresários, validando a escolha por arte pública para restaurar a autoestima da cidade.
1 Em conversa por e-mail entre Caroline Menezes e Helen Thompson em maio de 2022
2 Em conversa entre Caroline Menezes e Esther Rolinson em abril de 2022
3 Ibid, :2